sábado, 19 de março de 2016

Literatura

           A obra infantil de Monteiro Lobato 

Curiosidades e trajetórias dos livros do autor brasileiro mais importante na literatura voltada aos pequenos leitores 

                       

                                     Ilustração de Jean G. Villin para 'As Reinações de Narizinho', de 1931

"O mundo das maravilhas é velhíssimo. Começou a existir quando nasceu a primeira criança e há de existir enquanto houver um velho sobre a terra". 
     Em sua vasta obra infantil, composta de 23 títulos, Monteiro Lobato confirma sua célebre frase de 'Reinações de Narizinho', clássico que introduz ao público famosos personagens como Dona Benta, Tia Nastácia, Narizinho, Pedrinho, os brinquedos vivos Emília e Visconde de Sabugosa, dentre outros saídos da rica imaginação do autor paulista.


       As obras de Lobato servem até hoje de inspiração para diversos autores infantis, além de seguir encantando crianças e adultos com suas histórias cheias de criatividade e bom humor. Não é a toa que o 'Sítio do Picapau Amarelo' tornou-se tão marcante no imaginário brasileiro, se disseminando em mídias variadas e firmando-se como um dos nossos maiores clássicos. É em vista disso que o 'Sobre Arte', dessa vez, resolveu falar sobre Monteiro Lobato.

"Ainda acabo fazendo livros onde nossas crianças possam morar" 

  De fato, Monteiro Lobato escreveu livros onde as crianças moravam, e ainda hoje moram. A influência de suas obras passadas no sítio de Dona Benta é tão grande que vemos muitas vezes elas representarem nossa literatura para crianças, mesmo depois de quase cem anos do lançamento de 'A Menina do Narizinho Arrebitado". A escritora Fanny Abramovich afirmou que não houve em sua infância autor como Lobato. "O que mais me impressionou agora é como ele não separa a realidade da fantasia. Não tem fronteiras. Sai dum, entra no outro, num pulo só. Delícia pura! Estudei milhares de artigos sobre o jogo da criança. Ele, aposto que nem precisou. Caiu de boca e entrou no jogo. As crianças e bichos vivem no divertimento descobertante, na alegria de sair pelos aís e depois...calmamente todos voltam pro Sítio, com um berro chamante da Dona Benta pra comer bolinhos." 

 

     Um fato curioso acerca do autor foi quando Emílio Moura reuniu os alunos de um grupo escolar de BH e apresentou-os á Monteiro Lobato. As crianças não queriam acreditar que aquele, ali na frente delas, podia ser Lobato. "Então o senhor pensa que nós acreditamos? O homem que escreveu Narizinho não pode estar aqui!" A ideia de que um homem de carne e osso, como tantos outros, pudesse escrever histórias infantis tão mágicas não podia ser real. O escritor conta que ficou emocionado diante daquela reação. "Nunca pensei que fosse tão séria a influência do que escrevo. Até agora ia escrevendo... por escrever... mas essa meninada me deu uma lição. Vou pensar muito antes de escrever daqui por diante".

Críticas 

  O tom de crítica das obras lobatianas também era algo que chamava atenção. Muitos políticos brasileiros da época chegaram a afirmar que seu trabalho era "antipatriota", e que o autor foi "indelicado" ao falar mal do governo para crianças. Lobato respondeu que "era importante", para ele, "transmitir o seu espírito crítico através de suas histórias, e que "as pessoas estavam habituadas a mentir para seus filhos, dizendo que o Brasil era um país realmente maravilhoso". Durante a vida, Lobato foi bastante incompreendido por pais e educadores, e seus livros chegaram a ser inclusive queimados no pátio de uma escola.                                              Cecília Meireles também pensava que os livros do autor "estavam em desacordo com o moderno espírito de educação". Para ela, as histórias lobatianas eram engraçadas, mas seus personagens eram completamente detestáveis.

O Sítio em outros países 



Os personagens ilustrados em uma edição russa da série.   Desde os anos quarenta, os livros de Monteiro são traduzidos para outros países, como Alemanha e Itália, por exemplo. Mas as traduções para o exterior da obra lobatiana ganharam ainda mais força com o desenho animado 'Sítio do Picapau Amarelo', de 2012, que, levado para diversos países, fez os livros chegarem ao Japão, Rússia, entre outros. 


Quase 100 anos

Em Dezembro de 2020, a obra infantil completa cem anos. No natal de 1920, Lobato deixou o melhor presente que as crianças daquele tempo poderiam sonhar: um livro infantil ilustrado, com uma história propriamente brasileira. Antes de 'A Menina do Narizinho Arrebitado', os livros infantis no Brasil eram sempre adaptados de clássicos estrangeiros, ou apanhados da cultura popular do país. Em 1931, Lobato integrou 'A Menina' no livro 'Reinações de Narizinho', sendo essa sua obra-prima, segundo críticos. 
    Os livros do 'Sítio' já viraram filme ('O Saci', de 1951, e 'O Picapau Amarelo'), série de TV (Na extinta TV Tupi, na TV Cultura, Bandeirantes e, duas vezes, na Rede Globo), desenho animado, revista em quadrinhos e muito mais. O segredo para tanto sucesso talvez esteja na liberdade que o autor proporciona ás crianças através da leitura de seus livros. Antes de Lobato, os pais falavam e os filhos obedeciam, sem dar um só pio. Foi ele quem ensinou que todos podem ter vez e voz. As histórias cheias de fantasia e criatividade, além de seu brasileirismo imenso, também foram responsáveis por tamanha dimensão. Sem falar que seus livros, todos eles, são como verdadeiros retratos da infância. Comer jabuticabas e fazer ploft, pluft, nhoc!, largatear ao sol, brincar de "faz-de-conta"... Não há criança que não se veja descrita ali. 
                                        A seriado infantil de 2001, baseada na obra literária de Monteiro Lobato   

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